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Galáxias
Autor
Haroldo de Campos
Editora
ExLibris
Tradução
Textoviagem, textoviário onde a estória se esfinge
“... aquele como se chamava americano louco crazy american disse miguel com seu perfil de príncipe azteca e disse também gringo mas não para ofender amistosamente comprara um carro e se botara de new york a méxico city com mulher e filhos mal sabendo guiar e não falando nenhuma palavra de espanhol só gracias gracias e no comprendo se chamava harry sim e a mulher sara judia de olhos amêndoa para o méxico pouco dinheiro e com vontade de ficar your country is not killing people por trás dos olhos claros in vietnam guiando às tontas baratatonta fuck it pela trama das calles quase duas horas para chegar a churubusco perto de la ermita damn it fuck it praguejava tonto ixtapalapa churubusco palavras enroladas na língua e garotos assobiavam para as pernas de sara palmo tâmara de coxa fora da saia papazules que por sinal são verdes y cochinita pibil e o méxico te paralisa com seu soco de pulque e plumas a você
também com esse textoviagem entrebebido em amatl agora em papel de árvore ou amatl papel cor cortiça este textoviário batido e rebatido também como a massa do amatl esfolado com pedra e esfolhado na pedra até chegar ao doce do papel liso e piso onde a estória se esfinge com figuras cabeças de serpente cabeças aztecas e de serpente coatlicue deusa-morte deusa bi-serpe vestida de cobras vivas um crânio ocos de um crânio todoocos num colar de mãos madredeusa também da terra que a morte te está mirando desde os ocres de toluca aquele maldito crazy american sem saber guiar direito e teimando stubborn as a mule teimoso feito mula eu disse desta vez querendo saber onde ficava a highway nãoseiquanto porforça a highway não me deixava indagar da carretera a toluca e íamos para toluca como se estivesse numa rodovia de new england corações também no colar de mãos e escamas de serpente xadrezando a pedra crianças brincavam com caveiras de açúcar na feria de los muertos máscaras de caveira em papel-cartão mas o pneu rompido forçou o giro à esquerda não sentia mais os freios verônicas de cartão y calaveras de azúcar um looping em câmaralenta o asfalto da estrada rinchando cavalo cortado popocatepetl e ixtlacihuatl anil com capuchos de neve e abaixo logo abaixo eis la gran tenochtitlan seus templos e canais ladrilhos de água no risco geométrico tlaloc o deus-chuva pirâmide azul pirâmide púrpura huitzilopochtli o deus-guerra quatro filas de pentacrânios em lados quadros a figura na liteira é cihuacoatl inspetor dos mercados e os dois de orelheiras jade e cara negra tinta de negro coletam tributos guajolotes elotes frijol de diferentes colores há de tudo aqui pescado acociles ranas e iguanas na coroa-de-copos de leite a pequena prostituta xochiquetzal ao colar de jade cabelos colhidos pela mão sinistra e tigrídea a floramor nessa mão a direita descobre a coxa tatuada jarreteira ouro à altura do joelho e celhas riscoblíquas sobre os olhos amêndoa em lentacâmara o looping e o carro virado sobre si mesmo a carretera também virada sobre si mesma nem sangue nem fogo nem fezes no coalho de óleo intactos na lata amassada entre vidros puídos e você e harry e sara e crianças arreliando com voz de pato donald e sara e harry e você para toluca e crianças para toluca vivos viva-a-vida vida para o mercado cor tortilla de toluca “