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Ó
Autor
Nuno Ramos
Editora
Iluminuras
Tradução
O fitness encarcerado
“... Assim, contra todo bom senso, seria preciso abrir os presídios, soltando cada prisioneiro, qualquer que tenha sido o seu crime, em nome do direito a uma quota de metros quadrados à volta de cada um. Nosso passo deve permanecer livre, desgovernado, perdido – deve poder perder-se sempre, e mesmo quem foi violento e recebe agora a carga fria e organizada da violência coletiva deve ter direito a passos falsos, a gestos inexplicáveis, deve poder espreguiçar-se, girar a cintura para trás sem motivo aparente. E preciso renunciar à compressão física como castigo. A própria ginástica, a repetição mecânica de gestos estranhos, o alongamento obsessivo do corpo, como uma goma, até que alcance posições improváveis como os pés atrás da nuca, ou o enrijecimento progressivo da cadeia muscular através do levantamento de pesos, das flexões infindáveis, são todos expressões interiorizadas de um enorme castigo e desconforto, que voluntariamente subscrevemos. Punimos nossa amável paralisia, o abandono de nossos membros à inércia com uma industriosidade gestual
simplesmente histérica. E se fazemos isto conosco voluntariamente, imagine com aqueles que devem ser punidos. Estes são tratados pior do que galinhas enjauladas, amontoados atrás das barras como sacos vazios sem mistério e sem vida pregressa, rostos inexpressivos que quanto mais parecem fundidos ao anônimo coletivo mais acabam singularizando-se do único modo que lhes restou: pelas feridas, cicatrizes, tatuagens, pelo inexplicável de suas expressões faciais. “