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O lago encantado de Grongonzo

Autor

Marilene Felinto

Editora

Guanabara

Tradução

De mulher para mulher

“... Amanhã, então. Tinha pelo menos um lugar no mundo de que ela não queria mais nada: o das falsas gentilezas, o das afinidades fuleiras, o de onde vinham amanhã visitas em férias, amigas preferidas, primeiros namorados. Sem que ela quisesse nem pudesse. Amanhã. Normal. Pois hoje era organizar o tempo que sobrava e matá-lo em fios de ovos; e esperar, pronta como o bolo, para receber tudo o que se quis um dia amizade e amor. Embora acontecesse de não ter precisão nenhuma. Embora acontecesse que, não havia dúvida: uma mulher olhava para outra antes com vaga inveja. Embora acontecesse que não haveria bolo que adocicasse. Tinha das dedicatórias ruins, errantes. Todas as mulheres mais bonitas que ela podiam ter o cabelo escorrido das iaras – iaras só enganavam homens, que viviam bestando à beira das águas. Enquanto as mulheres se faziam pra todo

mundo querer ser, e pra todo mundo namorar. E numa mesquinharia da pior espécie. Que ela tinha também. Tinha. — Ein, Levi? ela perguntou ao marido entretido no trabalho. Sabia que tinha. E tinha das cumplicidades odiosas que mulheres teciam de uma pra outra. Aliás, amizade com mulheres por pouco não se tornara a mais insuportável das coisas que já vivera. Aliás, era entre mulheres que a vida corria descaradamente mesquinha – a mesquinhez que a vida tinha de se constituir ponto por ponto, pouco a pouco, de carreira a carreira do tricô na beleza da blusa final. Uma mulher olhava pra outra antes com vaga inveja. Reservara-se um destino de silêncio onde jamais uma mulher se sentisse perdoada: olha que o bicho te pega, olha que o bicho te come. As mulheres que... que às vezes morriam de parto, não morriam? Morriam de parto, então. Ou degoladas pelos homens. Não era? Morriam degoladas pelos homens, pelo amor todo que elas lhes davam ou não lhes davam. Sim. — Ein, Levi? — Ein o quê? ele disse sem olhar. — Nada. Nada de mesmo. Que ele seria rude e impaciente, falando de quando as pedras se encontram, quanto mais as criaturas. Ela então fez de conta que nada vezes nada. Uma prova de zeros circunspectos, silenciosos...“

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