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O último verão de Klingsor

Autor

Hermann Hesse

Editora

Record

Tradução

Pinheiro de Lemos

A bandeirinha pintada como um poema de Li Tai Pe ou Paul Verlaine. A justificação de toda uma vida pelo simples fato de ter pintado uma bandeirinha

“... – Você tem pintado muitas coisas deliciosas e alegres, Luigi – disse Klingsor –, de que eu gosto muito: paus de bandeira, palhaços e circos. Mas o que mais me agrada é um trecho apenas de seu carrossel noturno. Lembra-se? Acima da tenda violeta e longe de todas as luzes lá no alto, dentro da noite, há uma pequena bandeira fria, rosa-clara, tão fria, tão solitária, tão horrivelmente solitária! É como um poema de Li Tai Pe ou Paul Verlaine. Naquela pequena bandeira rosa e ridícula concentra-se toda a desgraça e toda a resignação do mundo e todos os risos que merecem a desgraça e a resignação. Você justificou sua vida pelo simples fato de ter pintado essa bandeirinha, que considero uma das suas maiores realizações.

– Sim, eu sei que você gosta dela.

– Você gosta também. Veja, se você não tivesse pintado algumas dessas coisas, toda a boa comida, todo o vinho, todas as mulheres e todo o café de sua vida de nada valeriam, pois você não passaria de um pobre-diabo. Mas você é um rico diabo e um camarada simpático de quem todos gostam. Acontece, Luigi, que eu penso muitas vezes como você... Toda nossa arte não é senão um substituto, um substituto penoso e dez vezes mais caro da vida dissipada, da animalidade dissipada, do amor dissipado. Mas na realidade não é assim. É muito diferente. Se considerarmos as coisas do espírito como simples substitutos da sensualidade perdida, estaremos subestimando as coisas dos sentidos. A sensualidade não vale um centil mais que a espiritualidade e a recíproca é verdadeira. É tudo igual e tudo é igualmente bom. Quer se abrace uma mulher, que se escreva um poema, é tudo a mesa coisa. Enquanto a coisa principal for o amor, o entusiasmo, a emoção, tanto faz ser um monge do Monte Atos ou um homem de sociedade em Paris.“

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