Se um de nós dois morrer

“... EU SOU UM ESCRITOR SEM LIVROS Esta seria uma trabalhosa 'autobiografia' falsa de um homem que jamais escreveu uma linha mas, por ser leitor voraz, se toma por escritor. Basicamente, a ideia era montar um texto quase que exclusivamente a partir de citações – uma

ideia do velho WB que não hesitei em roubar, já que ele me parece muito importante como um escritor potencial, que vai se realizando um pouco no trabalho dos outros. Tenho separados num canto de estante 14 cadernos preenchidos por citações de todas as origens que se podem imaginar e que, editadas, formam uma narrativa minimamente linear, como se fosse uma autobiografia (nestes 14 cadernos estão a infância e a adolescência de meu personagem em trechos pilhados de autobiografias e de muita ficção). O problema é que, ao que parece, não há interesse nenhum nesta história de vida inventada. Sofia leu quase tudo e, delicadamente como sempre, me fez ver que estava perdendo tempo, embora também tenha ficado contaminada pelo hábito de ler o que fosse com um caderninho ao lado, anotando. Continuo, no entanto, pesquisando. Já são quase trinta cadernos, só que sem edição. Naquelas pilhas de citações deve haver uma vida. Mas não sou eu que irei narrá-la. Não há tempo. “

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