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Tribunal da quinta-feira
Autor
Michel Laub
Editora
Companhia das Letras
Tradução
O decadente glamour publicitário
“... Dani começou a trabalhar numa época de crise da publicidade. O mercado mudou a partir do início dos anos 2000, com as corporações de internet tirando das agências parte do dinheiro usado para campanhas milionárias em grandes veículos da antiga imprensa. Clientes agora podem atingir um público mais específico com verbas menores, por causa dos algoritmos que customizam os hábitos e escolhas de todos nós, obtendo uma resposta mais imediata, eficiente e mensurável por meio de pagamentos por clique e outros recursos que dispensam o custeio do tradicional estilo de vida criativo. Comparando a vinte anos atrás, o horizonte financeiro de alguém na minha posição não chega a impressionar. O futuro profissional de alguém como eu não chega a ser brilhante. As perspectivas para uma velhice estável e orgulhosa não são tão prováveis como já foram. Mesmo assim, vá explicar esse pequeno drama tecnológico-decadentista para a secretária, que passa o dia falando sobre fotos e aniversários de bebê, e para o auxiliar administrativo, que sonha em ser redator porque gosta de trocadilhos e pontos de exclamação. Vá explicar que eles trabalham na agência há anos, sem nenhuma regalia ou perspectiva de crescimento, e uma garota no sexto semestre de faculdade aparece e vai a um bar de balcão colorido acompanhada pelo diretor de criação, o sujeito que ganha num mês o que eles demoram três, quatro ou doze para ganhar, então são naturais os comentários sobre a arrogância que a redatora-júnior nunca disfarçou, sua ambição e cara de pau, seus decotes e saias e a espionagem que ela muito provavelmente fez em meio a seus colegas, e agora há a prova escrita de como tudo pode ser ainda mais sórdido."